domingo, 25 de novembro de 2012

E.E.PROFº" DIRCEU JUNQUEIRA DE SOUZA"


PROJETO OPERANDO COM NÚMEROS DECIMAIS






                                            
                                         

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O último livreiro do império


Matéria publicada no Jornal O Estado de São Paulo, 12 de novembro de 2012.
O último livreiro do império 

Jotabê Medeiros 

Comenta-se que José do Patrocínio, filho e cidadão de Campos dos Goytacazes, comprou ali na livraria Ao Livro Verde a pena com a qual a princesa Isabel assinaria a Lei Áurea, em 1888, libertando os escravos no Brasil. E olha que, àquela altura, a livraria já tinha 44 anos e durado mais que a imensa maioria das livrarias atuais do planeta, as Barnes and Noble e as Borders que morrem como moscas diante das mudanças da era digital e do e-commerce.

A história da caneta de Patrocínio é meio lendária, mas quase todo o resto ainda está por ali para ser comprovado, como os três balcões originais da antiga loja, uma cristaleira palito de perfumes (na época, perfume se vendia em livraria, e não em farmácia), fotografias antigas por todo lado, a fachada original com o nome do estabelecimento em relevo. Em 1995, o Guinness Book reconheceu sua longevidade e lhe concedeu o título de A Livraria Mais Antiga do Brasil.

Os tempos ditaram as mudanças, pela sobrevivência: apesar da oferta de volumes novinhos de Getúlio, de Lira Neto; Marighella, de Mário Magalhães; Verão da Lata, de Wilson Aquino; e da autobiografia de Neil Young; a loja Ao Livro Verde é hoje mais papelaria do que livraria. Vende livros didáticos, arquivos de papel e pen drives. Tem um pequeno café e um computador para acesso à internet. Possui 27 funcionários, a maioria especializada no atendimento de papelaria, sem intimidade com a literatura.

A uma quadra do Rio Paraíba do Sul, a livraria chegou a ser a joia da intelectualidade portuguesa da corte que atracava no antigo Cais do Imperador. Foi para esse público que foi criada, em 1844, pelo empreendedor português José Vaz Corrêa Coimbra. Citada pelo escritor José Cândido de Carvalho (outro filho de Campos) no livro O Coronel e o Lobisomem, a livraria fluminense foi inaugurada em 13 de junho de 1844, e pertenceu a três famílias – a atual, Sobral, a comprou do alemão Max Zuchner e a administra desde os anos 1940. Um anúncio no jornal O Monitor Campista, de 1844, já mostrava a vocação futura do estabelecimento: a loja oferecia, além de livros e serviços gráficos, `miudezas, lindo sortimento de joias, drogas medicinais e para pinturas e o legítimo rapé Bernardes`.

A ruazinha onde fica o predinho já teve três nomes (Barão de Cotegipe, Rua Bananal e a atual denominação, Rua Governador Teotônio Ferreira Araújo) e a numeração foi mudando, mas a livraria nunca se mexeu um milímetro do seu lugar. `Não posso acabar com essa livraria, ela vai para 200 anos`, diz o atual proprietário, Ronaldo Sobral. No momento, a rua está em obras, estão alargando as calçadas e revitalizando, mas os trabalhos prejudicaram sensivelmente o movimento, queixa-se o comerciante.

O balconista Carlos Américo Machado Franco, de 76 anos, começou a trabalhar ali aos 16 anos. `Eu vinha de bonde. Atendi aqui clientes que tinham 95 anos, e que eu conhecia da vida toda. Tinha muitos do tempo das usinas, mas elas fecharam`, conta. O comércio que mais resistiu foram duas casas de ferragens e duas farmácias, que passaram do século 19 para o 20, mas também já fecharam.

Muitos foram até ali conferir a lenda da livraria que nunca fechou, do acadêmico Austregésilo de Athayde ao escritor Carlos Heitor Cony e o cartunista Ziraldo, que deixou um desenho e um autógrafo num cartaz da livraria. `Aqui reúne uma turma muito boa, vem o pessoal da Academia Campista de Letra`, orgulha-se o fotógrafo aposentado Wilton Moreira, de 85 anos, um dos mais antigos clientes – tem mais de 50 anos que passa por ali diariamente, toma um cafezinho e pega os jornais para ler.

Em 1988, o Primeiro Encontro Internacional de Tradutores levou até a Ao Livro Verde intelectuais do mundo todo, que deixaram seus nomes no livro de visitantes: a francesa Alice Raillard, o alemão Curt Meyer-Clasen, o italiano Mario Merlino, o dinamarquês Per Johns. Os jovens poetas e escritores da cidade são habitués, mas compram pouco. `Intelectual não tem veia comercial. Livro raro é coisa de colecionador, a casa aqui sempre foi fiel ao fundador`, diz Sobral, de 65 anos. O prédio foi tombado pelo município, mas nunca recebeu nenhuma atenção dos governos do Estado e Federal.

Ao Livro Verde passou por duas guerras mundiais, pelas revoluções todas, pela ditadura militar, pela dance music, pelos livros de autoajuda. `E nunca fechou!`, sentencia Ronaldo Sobral. Ele tem três filhos, um advogado, uma especialista em informática e um gerente de banco. Se vão prosseguir com a tradição? `O passado já passou, e o futuro quem sabe?`, avalia o livreiro. `Mas é muito difícil, é uma luta. Tem hora que dá vontade de desistir.`

`Quando o Kadafi morreu, lembraram que ele tinha escrito um certo Livro Verde e telefonaram para mim, não sei se foi da Folha de S.Paulo ou do Estado, para perguntar o porquê do nome da loja`, diverte-se às gargalhadas Sobral. O nome já era um século mais velho que o ditador líbio, mas ninguém sabe sua origem. Não há referência bibliográfica. O jornal Monitor Campista, o primeiro a registrar uma oferta da livraria, em sua abertura, já começou com um erro digno de um `Erramos`: chamou-a de Loja do Livro Verde, quando na verdade a própria fachada dizia Ao Livro Verde.

Historiador? Só com diploma


Matéria publicada no Jornal Folha de São Paulo, 10 de novembro de 2012.

Historiador? Só com diploma 


Fernando Rodrigues

Poucos notaram, mas o Senado aprovou um projeto de lei estapafúrdio na última quarta-feira. Eis o essencial: `O exercício da profissão de historiador, em todo o território nacional, é privativo dos portadores de diploma de curso superior em história, expedido por instituição regular de ensino`.

Em resumo, se vier a ser aprovada pela Câmara e depois sancionada pela presidente da República, a nova lei impedirá que pessoas sem diploma de história possam dar aulas dessa disciplina.

A proposta é de um maniqueísmo atroz. Ignora que médicos, sociólogos, economistas, engenheiros, juristas, jornalistas ou cidadãos sem diploma possam acumular conhecimentos históricos sobre suas áreas de atuação. Terão todos de guardar para si o que aprenderem.

Há sempre a esperança de alguém levantar a mão e interromper essa marcha da insensatez na Câmara. Mas mesmo que seja abortado, o episódio não perderá a sua gravidade. Trata-se de um alerta sobre a obsolescência e a falta de lógica do processo legislativo brasileiro.

A ideia nasceu em 2009. Era um projeto do senador Paulo Paim, do PT gaúcho. Em três meses, o senador Cristovam Buarque, do PDT de Brasília, deu um parecer favorável. Ouviu um chiste de José Sarney: `Você quer me impedir de escrever sobre a história do Maranhão`.

Cristovam parece arrependido do seu protagonismo. Indica ter deixado tudo para assessores, sem supervisioná-los como deveria. Erros acontecem. Só que o senador defensor da educação não quis reconhecer o equívoco na quarta-feira. Preferiu se ausentar do plenário.

O Senado tem 81 integrantes. Só dois votaram contra o diploma obrigatório para historiadores: Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e Pedro Taques (PDT-MT). É muito pouco para impedir que o país se transforme, de lambança em lambança, numa pátria das corporações.


Matéria publicada no Jornal O Estado de São Paulo, 29 de outubro de 2012.


Projeto obriga pais a acompanharem desempenho dos filhos na escola 

Agência Senado

O pai ou responsável que não comparecer à escola e acompanhar o desempenho de seu filho poderá ser punido. Projeto de lei com esse objetivo já recebeu parecer favorável e está pronto para ser votado na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado.

O senador Cristovam Buarque (PDT/DF), autor da proposta, afirma que a educação é um direito de toda criança e que a participação dos pais é essencial no processo educativo. “A escola sozinha não consegue cumprir integralmente o papel de formadora. A educação não se faz apenas pela escola, isolada da responsabilidade e da ação dos pais no acompanhamento do desempenho de seus filhos”, afirma.

A proposta prevê que o responsável deva comparecer na escola, seja ela pública ou privada, pelo menos uma vez a cada dois meses. Será considerada presença o comparecimento em reuniões de pais e mestres, ou conversas individuais com o professor, sempre atestadas pela direção da unidade estudantil.

Para o relator do projeto, senador João Capiberibe (PSB/AP), o fato de os pais matricularem seus filhos em escolas não tira a responsabilidade deles de monitorar e acompanhar o desenvolvimento educacional da criança ou do adolescente.

Penalidade

As penalidades para o não cumprimento da lei serão as mesmas previstas no Código Eleitoral para quem deixa de votar. Dentre elas, uma multa de 3% a 10% sobre o salário-mínimo, além da proibição de inscrição em concurso público, receber salário ou participar de cargos públicos; solicitar empréstimos em estabelecimentos de crédito mantidos pelo governo e obter passaporte ou carteira de identidade.

Em pesquisa feita pelo Alô Senado, a população diverge sobre o assunto. Para o cidadão Leonardo dos Santos Marques Gomes, de Ivinhema (MS), a proposta é positiva.

`Eu concordo com essa iniciativa, pois tem muitos pais que se omitem em saber como anda o desempenho do filho na escola. Na grande maioria das escolas, ocorre de apenas de um pai aparecer nas reuniões, o que é lamentável. Apoio em 100%. Pai preocupado com o filho é educação garantida e Brasil produzindo com qualidade`, afirmou Leonardo.

No entanto, Lidiane Lima Santos, de Belo Horizonte (MG), é contrária à proposta. Ela afirma que muitos pais, para proporcionar um bom estudo a seus filhos, trabalham em dois empregos, o que em sua opinião dificulta a presença deles nas escolas.

`São muitos impostos e o salário é pouco, por isso muitos optam por trabalhar em mais de um lugar para dar estudo às crianças. Qual é a hora que esse pai ou mãe vai conseguir ir à escola do seu filho?`, critica Lidiane Santos.

Após analise da Comissão de Educação, a matéria segue para a de Constituição, Justiça e Cidadania em caráter terminativo.

Salva-vidas de adolescente

Matéria publicada no Jornal Folha de São Paulo, 20 de novembro de 2012.



Um jovem que prestará vestibular neste ano me enviou uma mensagem quase desesperada. Ele diz que sempre foi bom aluno e que sua vida escolar jamais foi motivo de preocupação para ele ou para seus pais.
Nunca precisou estudar muito para ter boas notas, fazia lições e trabalhos sem muita vontade, mas sabendo que precisava fazê-los para ter boa avaliação --ele tinha tomado para si essa responsabilidade como estudante.
As provas, contou ele, nunca foram motivo de ansiedade. Aliás, várias vezes ele simplesmente se esqueceu de olhar o calendário e, mesmo de surpresa, enfrentou as avaliações e saiu-se bem.
A questão é que, desde o início deste semestre, passou a ficar muito ansioso tanto com as provas na escola quanto com a ideia dos exames que tem de prestar para entrar na faculdade que deseja. Não consegue dormir bem na véspera do dia da prova, tem pesadelos, fica gelado e sempre com a sensação de que vai desmaiar.
Aliás, um pesadelo tem sido recorrente: o de que, quando faz a prova do vestibular, é flagrado portando um dispositivo tecnológico proibido e, dessa maneira, sua inscrição é anulada.
Nem é preciso dizer que, depois desse sonho atormentado, ele acorda passando mal e fica o dia inteiro sem conseguir se livrar da imagem de seu sonho.
Desejoso de um apoio, puxou conversa com o pai e tentou contar a ele o que estava acontecendo. O pai, certamente com a intenção de acalmar o filho, disse uma frase que piorou a situação de nosso jovem leitor.
"Você nunca teve problemas com provas, filho, não vai ser justamente na prova mais importante da sua vida que você vai falhar." Depois de ouvir essa frase, nosso jovem ficou mais pressionado ainda. Ele entendeu --nem sei se foi intenção do pai passar tal mensagem-- que ele não pode falhar.
Ele também tentou pedir ajuda a um professor, mas recebeu de volta o que ele chamou de "um discurso motivacional" que fez efeito zero.
Esse jovem, como tantos outros nesse momento, pediu ajuda e não teve acolhimento. Ele ainda foi direto ao ponto, mas há jovens que pedem ajuda de maneiras desajeitadas porque não têm clareza de que querem pedir ajuda. Seja o pedido feito de forma direta ou indireta, poucos são acolhidos.
Temos tido dificuldades em reconhecer a importância do nosso papel na jornada final de filhos e alunos. Não podemos deixar de perceber que muitos estão quase se afogando e precisam de uma boia que os ajudem a se salvar.
Não temos ouvido os pedidos de ajuda que nos são lançados ou ouvimos, mas acreditamos que, mesmo em dificuldade, eles conseguirão se virar sozinhos e superar o obstáculo que enfrentam.
Alguns irão mesmo, não duvido disso. Mas poderiam sofrer bem menos e chegar ao mesmo resultado se sentissem que não estão sozinhos no final de sua jornada.
Outros, entretanto, poderão ficar rodando em círculos justamente por não encontrarem um incentivo, uma ajuda, uma companhia no momento difícil pelo qual passam. E, depois de um tempo, até podem acha um caminho, mas não precisariam passar por esse sofrimento inútil.
A passagem da infância para a adolescência costuma ser um período de crise, difícil para filhos e pais. Pois a passagem da adolescência para a vida adulta também. Por que não assistimos nossos filhos e alunos nessa transição?
É bom lembrar que nosso papel educativo só termina quando os mais novos conquistam a maturidade. Até o último momento antes disso, precisamos estar a postos em nosso papel.
Quando não fazemos isso, retardamos a maturidade em vez de precipitá-la. Talvez por isso tenhamos tantos jovens adultos imaturos na atualidade.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

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